Geeks se unem por um mundo melhor
Experts e apaixonados por tecnologia – e também conhecidos como geeks –, eles trocam o convívio isolado com o micro por ações que tornem o mundo melhor
FRANCIELE XAVIER

Diego Tratoli: todas as semanas ele dá aulas aos moradores da sua comunidade
Ficar fechado em casa em frente ao computador e só sair para fazer o indispensável já deixou de ser rotina dos geeks – termo em inglês usado para definir pessoas fissuradas por tecnologia. É cada vez maior aqueles que decidem compartilhar o conhecimento, especialmente para promover a inclusão digital, o bem social e a educação.
O movimento, já batizado em inglês como “Something better” (algo melhor), é uma resposta ao chamado feito por líderes na internet mundial, como o Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, o criador do Linux, Jon Maddog Hall, o pai da www, Tim Berners-Lee, entre outros.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos no governo de Bill Clinton e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, acha que os geeks podem ajudar – e muito – a humanidade.
Em visita ao Brasil em janeiro último, quando participou em São Paulo da edição brasileira do maior encontro de usuários da internet, Al Gore destacou que o poder de mobilização da rede mundial de computadores deve ser usado para tornar o mundo melhor.
Para isso, defendeu o Prêmio Nobel da Paz 2007, a web não pode ser controlada pelos governos. Livre, a rede pode servir a todo tipo de campanha, de proteção ao meio ambiente à doação de sangue.
Ativista ecológico, com dois livros publicados sobre o tema (“A Terra em Balanço: Ecologia e o Espírito Humano”, Editora Augustus, 1993, e “Uma verdade inconveniente”, Editora Manole, 2006), o próprio Al Gore experimentou essa força em 2007, ao lançar junto com o presidente do Grupo Virgin, Richard Branson, uma competição que daria US$ 25 milhões (hoje, cerca de R$ 40 milhões) ao cientista que apresentasse a melhor proposta para “limpar o ar” do planeta. A divulgação, candidatura, defesa e apresentação dos milhões de concorrentes ocorreu somente por meio da internet, bem como a distribuição dos trabalhos à comissão de jurados. A análise das propostas está sendo feita desde o ano passado e o vencedor ainda não foi divulgado. Uma nota do Grupo Virgin informa que o projeto também será apresentado via web, porque é mais barato, rápido e democrático.
“Os geeks têm conhecimento privilegiado na área de tecnologia e podem atribuir poderes a quem pode fazer um pouco mais para a humanidade”, ilustrou Al Gore. Na prática, ele defende a complementação dos conhecimentos, por exemplo, um geek e um médico podem prestar muitos serviços comunitários juntos.
E não precisa ser nada muito elaborado. Para o Nobel da Paz, a simples criação de sites, blogs e redes sociais que compartilhem informações de forma fácil e livre já é uma grande contribuição. “Isso deveria fazer parte da rotina dos geeks e seria o primeiro passo. Depois, podem partir para ações mais elaboradoras”, defendeu.
Al Gore é presença constante nos encontros do Campus Party, realizado há 12 anos em vários países e há quatro anos no Brasil, mas, desta vez, seu discurso focado nesse tema deu mais força ao movimento “something better”.
‘Brasil será beneficiado pelo projeto’, antecipa criador
O espanhol apaixonado por tecnologia e idealizador do Campus Party, Paco Ragageles, encabeça o movimento “#somethingbetter” – escrito assim com a hashtag para dizer que é uma tendência, como no Twitter. O objetivo dele é conscientizar os nerds, arrastando-os para o programa de voluntariado tecnológico batizado de “GeekSansFrontiers” (Geeks sem Fronteiras, em português), inspirado na ong Médicos sem Fronteiras.
De acordo com Ragagele, o “GeekSansFrontiers” atuará em países cujo acesso a novas tecnologias não é satisfatório. Até o mês passado, o idealista espanhol reconheceu que tudo não passava de projetos. Sua meta é que neste ano equipes comecem a visitar locais menos desenvolvidos para detectar necessidades mais urgentes.
“É um plano ambicioso, mas estamos desenvolvendo-o em parceria com organizações amigas. O Brasil será um dos alvos do projeto, visto que no país a internet poderia ser muito mais difundida e barata. Parece que está longe de ser assim.”
O estudante Diego Tratoli, de 24 anos, é um exemplo de geek que aderiu ao movimento muito antes de começar a Campus Party 2011. Ele dedica cinco horas por semana para ajudar comunidades carentes a explorarem melhor o mundo virtual.
Universitário ajuda consertando PCs
Às quartas e sextas-feiras Diego, que cursa Sistemas de Informação, percorre a região do Butantã, em São Paulo, e ensina os moradores a criarem blogs, contas no Facebook, Orkut e Twitter, além de dar dicas sobre como proceder na rede.
Ele não tem receita, processo ou projeto escrito, apenas vontade de compartilhar conhecimento. “Chego em uma casa onde tem computador e os vizinhos também vão. É como se fosse uma aula mesmo. Eles têm muito interesse em aprender. E como muitos frequentam lan houses, é importante instruir sobre segurança na internet”. O estudante ainda ajuda a ong “Viva a Vida” com a construção do site e ensinando computação básica aos colaboradores da entidade.
O tecnólogo em Manutenção de Redes, Thiago Soares, montou uma oficina para consertar computadores na casa onde mora, no Bairro Mocca, em São Paulo, para dar assistência técnica aos moradores da sua comunidade. “Fiz isso porque sei que muitos por aqui têm computador que às vezes deixam de usar por problemas simples de resolver, mas os consertos ficam caros se realizado em alguma loja. Tenho o conhecimento e tempo, não custa nada fazer isso para que as pessoas continuem tendo oportunidades de se conectar com o mundo”, explica Soares, que está desempregado.
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